6 de nov. de 2017
24 de out. de 2017
26 de jun. de 2017
NINA HAGEN
Eu estava lá na primeira edição do Rock In Rio (1985), e bem no dia em que essa alienígena subiu no palco com uma puta banda cheia de swing e bem humorada! Melhor show da noite.
Desde lá e até semana passada só conhecia o álbum que a tornou famosa mundialmente cantando em inglês e que contém clássicos como New York New York e What It Is. Mas sua discografia e carreira é muito mais potente, irreverente e antiga. Ando encantado com sua originalidade, não deve nada ao maluco Frank Zappa que inclusive apadrinhou a cantora e a fez conhecida na América.
Sem dúvidas, é uma diva do pop. Sua voz não tem medo de se expressar, conhece as artimanhas do canto erudito e de todas as vertentes do rock. E cantando em sua língua, o alemão, ai tudo fica mais dramático, intenso e curioso.
Presto uma rápida homenagem montando esse poster que contém imagens de sua performance em um de seus sons mais loucos: Naturtrane
9 de abr. de 2017
25 de mar. de 2017
ELOMAR: O VERDADEIRO TROVADOR BRASILEIRO
Prosa crítica de: VINÍCIUS DE
MORAES
"A mim me parece um disparate que exista mar em seu
nome, porque um nada tem a ver com o outro. No dia em que "o sertão virar
mar", como na cantiga, minha impressão é que Elomar vai juntar seus bodes,
de que tem uma grande criação em sua fazenda "Duas Passagens", entre
as serras da Sussuarana e da Prata, em plena caatinga baiana, e os irá tangendo
até encontrar novas terras áridas, onde sobrevivam apenas os bichos e as
plantas que, como ele, não precisam de umidade para viver; e ali fincar novos
marcos e ficar em paz entre suas amigas as cascavéis e as tarântulas, compondo
ao violão suas lindas baladas e mirando sua plantação particular de estrelas
que, no ar enxuto e rigoroso, vão se desdobrando à medida que o olhar se
acomoda ao céu, até penetrar novas fazendas celestes além, sempre além, no
infinito latifúndio. Pois assim é Elomar Figueira de Melo: um príncipe da
caatinga, que o mantém desidratado como um couro bem curtido, em seus 34 anos
de vida e muitos séculos de cultura musical, nisso que suas composições são uma
sábia mistura do romanceiro medieval, tal como era praticado pelos
reis-cavalheiros e menestréis errantes e que culminou na época de Elizabeth, da
Inglaterra; e do cancioneiro do Nordeste, com suas toadas em terças plangentes
e suas canções de cordel, que trazem logo à mente os brancos e planos caminhos
desolados do sertão, no fim extremo dos quais reponta de repente um cego
cantador com os olhos comidos de glaucoma e guiado por um menino - anjo a
cantar façanhas de antigos cangaceiros ou "causos" escabrosos de
paixões espúrias sob o sol assassino do agreste.
Elomar nasceu em Vitória da Conquista, cidade que também deu
vez a Glauber Rocha e Zu Campos, e depois de formar-se em arquitetura pela
Universidade Federal da Bahia, ocupa atualmente o cargo de Diretor de Urbanismo
em sua cidade. Mas do que gosta realmente é de sua caatingueira, uma das mais
ásperas do sertão brasileiro, onde cria bodes e carneiros. Já me foi contado
que um de seus reprodutores, o famoso bode "Francisco Orellana",
quando a umidade do ar apresenta seus índices mais baixos - que usualmente é 10
graus - senta-se em posição estratégica sobre as patas traseiras e não se peja
de urinar na própria boca, de modo a aproveitar, num instintivo e engenhoso
recurso ecológico, a própria água do corpo para dessedentar-se.
E tem a onça. Vez por outra, a madrugada restitui a carcaça
sangrenta de um bode ou um carneiro, e todas as preocupações cessam, a não ser
chumbar a bicha. E a conversa entre os fazendeiros fica sendo apenas essa: onça,
suas manias, suas manhas, seus pontos fracos.
Todo mundo se oncifica. Elomar sai à noite para tocaiá-la, e
quando a avista só atira nela de frente. - Um bicho que vem de tão longe para
matar meus bodes, esse eu respeito! - diz ele em seu sotaque matuto (apesar da
boa cultura geral que tem) e que faz questão de não perder por nada, enojado
que está da nossa suposta civilização.
Quando lhe manifestei desejo de passar uns dias em sua
companhia e de sua família (Elomar é casado e tem um par de filhos, sendo que a
menina tem o lindo nome de Rosa Duprado) para descobrir, em sua companhia e ao
som do excelente violão que toca, essas estrelas reconditas que já não se
consegue mais ver nos nossos céus poluídos, Elomar me disse: - Pode vir quando
quiser. Deixe só eu ajeitar a casa, que não está boa, e afastar um pouco dali
minhas cascavéis e minhas tarântulas...
É... Quem sabe não vai ser lá, no barato das galáxias e da
música de Elomar, que eu vou acabar amarrando um bode definitivo e ficar
curtindo uma de pastor de estrelas..."
Abril de 1973
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